sábado, 1 de outubro de 2016

louca. bruxa. livre. lua nova

a lua renasce e a cada ciclo renascemos juntas. o tempo vai passando e aquela oscilação terrível entre o medo de ser só e o desejo de liberdade começa a se transformar em entendimento.
aquela pressão exigente e tóxica pra ser sugada pela lógica da propriedade e da famiglia vai se tornando uma porção de lamentos sonoros e visuais cada vez mais distantes e sem sentido.
e só me interessa o que pode voar. a matéria, também, mas etérea, também... coisa de fogo terra pedra água e vento.
o tempo vai passando e a encanação com a castração alheia começa a parecer uma bobagem ingênua. não me importa ser chamada de louca, nem mesmo a ponto de sentir pena. louco é quem está doente, quem se vende em troca de uma proteção frágil e falsa. um dia o vazio pega, e aí?
de olhos e ouvidos abertos pro mundo vou tecendo meu espaço energético. o resto vai ficando tão previsível e pequeno!
vejo tantas mulheres lindas e fortes perdidas em relações nas quais as pequenas belezas vão sendo engolidas pela carência e insegurança e se transformando em desrespeito, e começo a me esforçar pra perceber esse caminho o quanto antes e zelar pelo compromisso que tenho com meu próprio crescimento e minha liberdade. cada um está num processo nessa vida, e é preciso ter cuidado pra não confundir o maravilhoso gesto de se envolver no processo de outra pessoa por amor, e o ato de sair carregando frustrações por aí. isso dá cor nas costas.
mas o começo é por dentro, se tocando e se conhecendo. fazendo massagem nos próprios cabelos, olhando o fundo da garganta no espelho, passando a língua nos dentes, escutando o intestino, sentindo as escamas do caminho do útero, cheirando o próprio sangue de olhos fechados, apertando os peitos, usando o tato interno pra sentir os ares que entram e saem.
depois correr... deixar que os hormônios explodam e o coração venha bater na boca e em cada capilar sobre a pele... fazer latejar os músculos. cultivar sensações secretas, varrer a casa em silêncio pela manhã. depois voar... esquecer algumas coisas e perdoar tudo o que for possível. o amor só existe no perdão.
e que as palavras tenham seu poder reconhecido com mais ousadia e com mais cautela e generosidade. e que os sonhos não sejam imagens vãs. e que as folhas e as conchas sejam ouvidas. e que alguns pensamentos não sejam sufocados mas passem como nuvens. e que o corpo seja uma fonte, e que o desejo seja um fluxo, e que o encontro seja fluvial.


inês.



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