segunda-feira, 9 de março de 2015

línguas

palavra fere (palavra-arma). da fala que prende, quero o que cala. quero o som que voa, a palavra do corpo que sopra e que é poesia: olhos que se encontram e degustam seu reverso (olhar é verso), dedos que navegam no mar da pele (esse mundo do outro, que palavra repele), sangues que movem carnes e unem mundos, almas que voam pra fora de si. quero desejo que não cabe na palavra, amor que escapa à fala, coragem que foge das letras, vida que vira um universo, explodindo no gozo conjunto do encontro entre corpos e cheiros e línguas e olhares. há sopro no corpo, e, no corpo do outro, há mar, e isso basta pra fluírem os rios das veias e as linhas das mãos que caçam esse corpo-fora. o corpo é agora. palavras cansam, mas o corpos dançam.
e por mais que eu tenha querido ouvidos queridos, meu corpo vive e quer explodir. respiro, e sopro, e sinto, e sirvo, e queimo, e vôo. e se o peito se empedra, fura fundo a nova fonte que ainda pinga (mas guarda uma água cristalina, prestes a jorrar pelo mundo, pelo meu corpo, pelas pedras e palavras, nascente). se eu tenho sentido ainda, as palavras é que não tem mais. meu corpo-verdade deseja conversa com cheiro, riso engasgado entre línguas, pensamento que voa leve quando a cabeça mergulha num coração que não é o meu, mas me corrompe. falar é tentativa, amor é mais coragem. palavra não tem vida: o corpo é liberdade.

inês, sentindo o coração bater nas unhas.

Um comentário:

  1. Um texto complicado de se ler e, por certo de escrever mas que no fim...soa a poesia!
    beijo
    Graça

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