sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

beiras sem praia

fantasia I

donada. fui atravessada por tantos rios - fluxos que me curaram dores - e alguns pedaços foram ficando docemente pra trás, emergindo, leves, do escuro, batendo asas amarelas e interminando-me como pessoa, à medida em que descíamos e subíamos os cursos da doçura tantas vezes silenciosa dos santos e poetas e quanta. foram travessias carregadas de nãosolidões.
ver é negócio perigoso, nãover é negócio perigoso. viver é negócio perigoso, e desaguei de olhos fechados em braços que iam me trazendo pra onde o mar é doce (o sertão está em toda parte), e a estrada é linda, a fadiga fecunda, o ser não basta, tudo é real, há bem mais sois restando entre estrelas, o amor não existe e as coisas não tem nomes. e eu me perdi.
eu rio, e há alguém que me encara.
pensei que não pudesse mais ser tão atravessada.
e agora há mar, e basta.


fantasia II

ele veio como sempre de longe, como sempre com cheiro de mar, de destino, e aceitei o louco oferecimento de me abancar. (aguagem bruta, traiçoeira- o rio não é cheio de baques, modos moles, de esfrio, e uns sussurros de desamparo? eu tinha o medo imediato - e tanta claridade do dia!) ele cheirou o por-do-sol da minha pele, e senti seus poros, o sal do seu corpo, e desmaiei um pouco por dentro, e nossas peles e cheiros explodiam com as maritacas em bando.
trocamos de pele e de cheiros, e eu quis gritar. (o silêncio não me incomoda: o silêncio não existe)
eu sei que ele vai embora, sempre pra longe, sempre pelo mar. eu fico explodida de cheiros e peles, gozando nãosó, até me perder mais um pouco. de novo, só que como sempre de outro jeito.


travessia III

tentei mergulhar numa água escura, até que meus pés tocaram o barro da outra margem - que poderia ter sido a terceira, mas não era.


inês
(para iza).

Um comentário:

  1. *
    Bela prosa,
    de emoções mareadas,
    mergulhadas
    nas águas da casa d'água,
    onde me perco,
    sorrindo,
    e rio, no rio das frustrações,
    emoções,
    de beiras com praia,
    zagaia,
    pescando marés,
    nos pesqueiros, em tocaia,
    e,
    num mar sem margem,
    na debilidade do medo,
    a pele cheira a iodo,
    e num todo,
    vence o sussurro da aragem !
    ,
    um mar de afectos,
    deixo,
    *

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