domingo, 17 de maio de 2009

Perto dos tambores e das estrelas

Os botecos de ontem estavam exatamente iguais aos botecos de qualquer outro dia, e então um inquietamento súbito me uniu a meus companheiros e nos levou ao lugar mais alto - e frio - da cidade, com nossos instrumentos suados de ensaio.
Nosso único pesar era não ter maconha.
E não é que, lá, encontramos um grupo conhecido, criaturas da noite que estavam fazendo som desde cedo? (Inclusive com um beck que veio dum pé de 2 metros regado com muito carinho por um deles...)
Caixa de Folia, Didgeridoo e Djambês nos levaram a um transe sagrado coletivo, e por muitos instantes a existência inteira se integrava no ritmo puro de uma delícia irrecusável... E ao mesmo tempo um silêncio quase universal, o som dos tambores ascendendo a um plano superior, e nós, todos, submergindo mansamente naquela atmosfera de amor e sonhos que nascia dentro de cada um, e, num estalo, explodia em estrelas, que nos espiavam envaidecidas.
Naquela noite fria, acho que todos buscávamos os sons da floresta. A maioria, que tinha acabado de vender umas 10 horas de vida pra um patrão totalmente desconhecido, cantava ali seu canto de liberdade, e chorava de dor e saudade pela morte das águas, das plantas e dos bichos.
Em algum momento, o frio impiedoso foi mandando, uma a uma, aquelas criaturas lindas embora. Eu, que fiquei entre os últimos, fui trazida a casa por um príncipe de olhos brilhantes, que, como um anjo de asas veludosas, me trouxe no sono uma paz e uma pureza que muito me faziam falta.

Inês

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